Entre arranha-céus de mil metros de altura,
cidades tentam modelos sustentáveis
|
Azerbaijan Tower - 1050 m |
As
Ilhas Khazar são um exemplo das discussões sobre o futuro das cidades. Há quem
aposte em arranha-céus - o arquipélago vai nesta direção. Outro grupo prefere
prédios ambientalmente corretos que pareceriam samambaias gigantes, entre
outras soluções reunidas sob um guarda-chuva chamado "arquitetura
verde".
Presidente
da Avesta, companhia à frente do empreendimento azerbaijano, Haji Ibrahim
vende-o como uma cidade futurista. Mas as Ilhas Khazar, como foram batizadas,
acertam em poucos pontos, dizem especialistas. O ponto positivo é a mobilidade.
Arquitetos e urbanistas esperam que, nas próximas décadas, metrópoles sejam
capazes de reunir, em raios de 300 metros, todas as atividades e serviços
necessários para a vida de um citadino. Em outros aspectos, no entanto, o
arquipélago passa longe. Plantar dezenas de ilhas em uma região quase virgem do
Mar Cáspio parece para muitos especialistas uma receita para o desastre
ecológico.
Membro
proeminente da sociedade azerbaijana, o empresário Ibrahim garante que seu projeto
é sustentável. Companhias responsáveis por construir as ilhas artificiais na
Europa estão ao seu lado. Está difícil, porém, angariar apoio entre quem não
nutre interesse econômico no local.
-
Não vejo sentido neste projeto, e não digo apenas sob a ótica da
sustentabilidade - ressalta o arquiteto Antônio Macêdo Filho, representante no
Brasil do Conselho de Edifícios Altos e Habitats Urbanos, com delegados em mais
de 40 países. - Não há por quê construir enormes empreendimentos onde não há
quase nada, usando mão-de-obra temporária estrangeira, sem agregar benefício
social local.
Especialistas
ouvidos pelo GLOBO asseguram: talvez, no futuro, não tenhamos que transitar
entre monólitos envidraçados que nos privam da vista do céu. Mas, aqui embaixo,
há muito o que fazer.
Primeiro
mandamento: quanto menos nos deslocarmos, melhor. E, se o fizermos, que seja
por transporte coletivo.
-
Quatro milhões de pessoas vão diariamente da Zona Leste de São Paulo para o
Centro - destaca Macêdo. - Estas migrações intraurbanas tendem a diminuir se
houver trabalho, lazer e moradia próximos um ao outro. Em Manhattan, Nova York,
só um entre cada quatro moradores tem carro. As pessoas preferem se deslocar a
pé ou usar metrô.
São
Paulo não está sozinha entre os maus exemplos. O país inteiro padece do mesmo
problema de sua maior metrópole: a falta de planejamento. O poder público adota
projetos pontuais, em vez de ver o espaço urbano como um só.
-
A França fez, no ano passado, em torno de mil concursos públicos para contratação
de projetos. No Brasil, foram apenas 16 - compara Gilson Paranhos, presidente
do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). - Na Holanda, as autoridades vão
trabalhar de bicicleta. Mesmo que comecemos distante dessa realidade, por que
não tentamos atingi-la? Já não dá para argumentar que somos um país de Terceiro
Mundo.
Segundo
Paranhos, mesmo as tragédias não nos fazem aprender. A Região Serrana,
destruída pelas chuvas em janeiro de 2011, recebeu milhões de reais do governo
federal, mas ainda têm bairros infestados de lama. O desvio de verbas explica
em parte este descaso, mas outra fatia vem da falta de projetos.
A
última cidade brasileira planejada - e em 1960, numa ótica já ultrapassada - é
Brasília. Desde então, os municípios têm se alastrado, em vez de se
condensarem. O resultado: primeiro chegam os moradores; depois, serviços
primordiais, como asfalto, saneamento básico, fornecimento de água. Na Zona
Oeste do Rio, este problema é visível.
-
Quanto mais expande um centro urbano, mais caro é mantê-lo, porque é necessário
alimentá-lo com água, esgoto e novas vias - explica o arquiteto Márcio
Tomassini de Oliveira. - Cabe ao Estado fazer um acordo com a especulação
imobiliária e usar áreas onde há uma infraestrutura pronta, mas ociosa. Em vez
de inflar o Rio da Barra da Tijuca para Sepetiba, por que não ocupamos as áreas
disponíveis na Zona Portuária?
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe a sua opinião, crítica ou sugestão.